Você já parou para pensar como os dicionários são feitos? Quem decide quais palavras merecem estar ali e como são selecionadas? O livro Dicionário das Palavras Perdidas, de Pip Williams, publicado pela Editora Gutenberg, explora essas questões em uma tocante ficção histórica.
Acompanhamos Esme, uma menina curiosa e apaixonada por palavras, em sua jornada entre 1886 e 1989, enquanto ela descobre o poder das palavras — e das vozes que muitas vezes são silenciadas. Este livro vai além de contar uma história. Ele é uma reflexão sobre linguagem, exclusão, resistência e memória.
A história começa em 1886, quando Esme, com apenas 6 anos, passa os dias sob a mesa de trabalho de seu pai, um lexicógrafo dedicado à criação do Dicionário de Oxford da Língua Inglesa. O Scritorion — espaço onde os estudiosos selecionam palavras para o dicionário — se torna o playground de Esme, que cresce cercada por fichas de palavras cuidadosamente coletadas e organizadas.
Esme, curiosa e observadora, começa a perceber algo peculiar: muitas palavras são descartadas. Por que isso acontece? A resposta está nas regras rígidas que ditam quais fontes são consideradas confiáveis. Textos escritos por homens brancos de classes altas predominam, enquanto palavras oriundas de mulheres, trabalhadores e pessoas marginalizadas são deixadas de lado.
Inconformada com as exclusões, Esme decide agir. Sempre que encontra uma palavra "perdida", ela a guarda em um baú especial. Assim nasce seu próprio dicionário, onde as palavras rejeitadas — e suas histórias — encontram um lugar para existir.
Essa decisão nos leva a acompanhar Esme em uma jornada extraordinária. Enquanto coleta palavras, ela também coleta vozes e histórias. É uma aventura rica em nuances, que revela o peso do contexto histórico e social na formação do vocabulário.
O ato de Esme vai além de colecionar palavras. Ela documenta histórias, resgata significados e desafia o status quo. Isso nos faz refletir: quais outras vozes foram silenciadas ao longo do tempo? Quais histórias deixamos de ouvir porque as palavras que as representavam nunca chegaram às páginas de um dicionário oficial?
História e Ficção: A Magia da Narrativa de Pip Williams
Dicionário das Palavras Perdidas é uma ficção histórica que habilmente mistura personagens reais e fictícios. A criação do Dicionário de Oxford, evento central do livro, é um marco histórico na linguística, e o romance nos leva por momentos importantes, como o movimento sufragista e a Primeira Guerra Mundial.
A autora tece esses eventos históricos com delicadeza, enquanto dá vida a Esme e sua missão. A tradutora também tem um papel muito importante neste livro, já que estamos falando de palavras. E, no final da história, temos um relato de como foi fazer este trabalho.
Ler este livro é como viajar no tempo e participar de uma conversa sobre inclusão, poder e memória. Ele nos faz pensar sobre quem define o que é importante — no dicionário e na vida. O que significa preservar uma palavra? E o que perdemos quando esquecemos de preservar histórias?
Eu, particularmente, me senti amiga de Esme. Sua paixão pelas palavras e sua determinação em registrar o que muitos ignorariam me emocionaram profundamente. Além disso, o livro oferece uma visão fascinante sobre o árduo trabalho de criação de um dicionário, algo que nunca tinha imaginado com tanta profundidade.
Dicionário das Palavras Perdidas não é apenas uma obra sobre palavras; é sobre as pessoas que as carregam. Esme nos mostra como a linguagem pode ser uma ferramenta de exclusão, mas também de resistência e preservação.
Se você gosta de histórias que unem emoção, história e reflexão, este livro é para você. Mais do que uma leitura, é um convite para questionar o que consideramos digno de ser lembrado — e para dar voz ao que foi esquecido.
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