Era para ser só mais uma leitura de fim de semana. Um romance entre tantos outros na fila. Mas bastaram poucas páginas para que A Fênix Escarlate, de Angela Cruz, me fisgasse de um jeito profundo, quase ancestral. Talvez porque não seja só uma história — é um chamado. Um espelho. Um sussurro de outras vidas.
Esse é o tipo de livro que não se lê impunemente. Ele cutuca, reverbera, acende memórias que não sabemos se são nossas ou herdadas. E, principalmente, nos lembra que nenhuma de nós está sozinha — nem no tempo, nem na luta.
A Fênix Escarlate não se contenta em contar uma história linear. Angela Cruz costura realidades e épocas como quem entrelaça fios invisíveis de um destino maior. Blanca é uma escritora famosa no século XXI, mas também uma bruxa que já viveu em tempos onde ser mulher era, por si só, perigoso.
Nos capítulos ambientados na Antiguidade, vemos a jovem Blanca sendo perseguida por seu próprio pai, que a acredita marcada por Lilith. A imagem da mulher livre, rebelde e indomável, temida. Condenada.
Mas a autora não se limita ao drama histórico. Ela coloca Blanca em situações atuais, lidando com silenciamentos, desigualdades, a violência de gênero velada (ou escancarada) que insiste em nos rondar até hoje.
Quantas vezes você já se sentiu uma “bruxa” por simplesmente escolher ser quem é? A força do livro está em nos aproximar desse arquétipo de maneira simbólica e cotidiana. A bruxaria aqui não é apenas ritualística — ela é atitude, sabedoria, resistência. Está no jeito de cuidar, de intuir, de transformar dor em sabedoria.
Angela Cruz resgata esse poder ancestral das mulheres que foram queimadas, perseguidas, caladas... e que hoje vivem em cada uma de nós. Blanca não é a exceção — é o espelho. E isso muda tudo.
A imagem da Fênix também não é aleatória. O símbolo do renascimento das cinzas aparece como metáfora central da narrativa, mas também como lembrete: toda mulher que sobreviveu à opressão e ainda assim ama, cria e sonha — já renasceu.
Em diferentes momentos do livro, Blanca encontra aliadas e aliados. Pessoas que, como ela, também carregam marcas e cicatrizes, mas escolhem não se render ao medo. É nesses encontros que a história ganha cor e alma.
A autora nos mostra que, embora o sistema ainda tente nos isolar, a sororidade continua sendo o maior feitiço. Juntas, as personagens criam laços invisíveis de força, sabedoria e transformação. E não há nada mais revolucionário — e mágico — do que isso.
A Fênix Escarlate também se destaca por entrelaçar espiritualidade e ativismo sem cair no didatismo. A bruxaria apresentada na obra é vista como filosofia de vida — algo enraizado na humanidade desde sempre.
Ao longo da narrativa, percebemos como os rituais, os símbolos e a conexão com a natureza não são "coisas de outro mundo", mas sim pontes para compreender o mundo de forma mais sensível e expandida.
O livro também fala de memória. Não apenas a individual, mas a coletiva, a transgeracional. Aquelas histórias que nossas avós não puderam contar, mas que ainda ecoam em nossos corpos. As vidas que vieram antes da nossa e que seguem influenciando nossos passos, mesmo em silêncio.
Essa mistura entre o etéreo e o concreto faz da leitura uma experiência quase xamânica. Você sai diferente. Sai com mais perguntas do que respostas — e isso é maravilhoso.
Ler A Fênix Escarlate hoje é como reacender um fogo interno. Um lembrete de que a luta não começou agora — mas que cabe a nós continuar acendendo tochas, mesmo nas noites mais escuras. É um livro para quem ama histórias com alma, com propósito, com ancestralidade. Para quem busca resgatar sua força cíclica. Para quem já se sentiu apagada — mas está pronta para renascer.
A Fênix Escarlate é mais do que um romance. É uma travessia. Um feitiço literário que une mulheres de ontem, de hoje, e de sempre. É sobre ser chamada de bruxa e responder com coragem. Sobre se lembrar de quem fomos para não esquecer de quem somos.
Ao terminar a leitura, uma certeza ficou: todas nós temos um pouco de Blanca dentro de si. Todas temos algo a curar, a relembrar, a incendiar. E se há uma chama viva dentro de você agora, que esse texto seja lenha para o seu fogo. Leia A Fênix Escarlate. E lembre-se: queimar foi o que tentaram fazer com a gente. Renascer é o que a gente faz de melhor. E já aguardo ansiosa os próximos livros da saga!
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